O novo sistema de bilhetagem eletrônica da cidade do Rio de Janeiro, chamado Jaé, iniciou nesta segunda-feira sua operação em dia útil, marcando uma transição histórica nos transportes públicos municipais. Após o encerramento do uso do antigo Riocard nos modais controlados pela prefeitura, a população carioca começa a viver na prática os efeitos de uma mudança que promete dar mais transparência à gestão dos subsídios públicos. O primeiro grande teste do Jaé envolve mais de três milhões de viagens diárias, com a expectativa de que o novo sistema funcione com eficiência, apesar de ajustes ainda necessários.
Desde a madrugada, o prefeito Eduardo Paes acompanhou a movimentação no Centro de Operações Rio e afirmou que o Jaé está operando com 76% de cobertura nas viagens previstas. Ainda que a prefeitura tenha registrado filas nos postos de atendimento e relatado a existência de pequenos problemas, a administração municipal considera o desempenho satisfatório para um momento de transição tão delicado. A promessa é que os pontos críticos sejam corrigidos gradativamente, garantindo maior fluidez ao sistema nas próximas semanas.
O Jaé passou a ser obrigatório para ônibus municipais, BRT, VLT, vans legalizadas e os populares cabritinhos. O metrô também entrou nessa nova fase, aceitando o novo cartão. Já os trens e barcas, de responsabilidade estadual, continuam operando exclusivamente com o Riocard. A mudança, portanto, cria um cenário híbrido, exigindo atenção do usuário para escolher o cartão certo, principalmente se utilizar diferentes meios de transporte ao longo do dia.
Além do cartão físico, o Jaé oferece a alternativa do pagamento via QR Code pelo aplicativo oficial, disponível para dispositivos Android e iOS. A digitalização da bilhetagem busca facilitar o acesso e diminuir a dependência de bilheterias físicas. Contudo, o saldo existente no Riocard não é transferido automaticamente para o Jaé, sendo necessário realizar a solicitação de reembolso mediante cancelamento do cartão antigo. O processo exige vínculo com CPF e pode levar até 15 dias úteis, o que gerou dúvidas entre os usuários.
Até o momento, o sistema Jaé já contabiliza 3,4 milhões de cadastros. Em julho, antes da obrigatoriedade completa, foram mais de 22 milhões de viagens registradas, com média de 1,1 milhão de embarques por dia. A Secretaria Municipal de Transportes informou que mais de 1,3 milhão de cartões já foram entregues e outros 161 mil aguardam retirada. Mais de 38 mil ainda estão em fase de produção, revelando o desafio logístico enfrentado pelas autoridades.
Há categorias específicas que já utilizam o Jaé desde julho, como idosos, estudantes da rede pública e universitários cotistas ou em situação de vulnerabilidade. Para esses grupos, o sistema de gratuidades continua ativo com o novo cartão, embora os idosos possam acessar os transportes apenas com documento com foto, caso ainda não tenham migrado para o Jaé. Para trabalhadores com vale-transporte, a obrigação de adquirir os novos cartões é da empresa empregadora.
Empresas que ainda não completaram a entrega dos cartões Jaé aos seus funcionários devem entrar em contato com a Secretaria de Transportes. Enquanto isso, o QR Code permanece como solução provisória. O governo afirma que a integração tarifária permanece ativa para quem utiliza benefícios como o Bilhete Único Municipal e a tarifa social, desde que estejam habilitados nas plataformas correspondentes.
Os atendimentos para retirada ou solicitação do Jaé estão espalhados por toda a cidade, com postos localizados em bairros como Bangu, Madureira, Botafogo, Gávea, Pavuna, e muitos outros. O objetivo da prefeitura é assegurar cobertura ampla para que todos os usuários consigam migrar de forma segura e tranquila para o novo modelo. O sucesso do Jaé depende não apenas da tecnologia, mas da adesão popular e da capacidade de resposta do poder público às dificuldades enfrentadas pela população.
O Jaé representa um novo capítulo no transporte do Rio de Janeiro, que já viveu décadas de promessas e problemas no setor. Com o sistema em fase inicial de operação plena, o tempo dirá se a mudança será capaz de transformar de fato a experiência do usuário. Por ora, o que se vê é um esforço para consolidar uma bilhetagem mais moderna e com controle municipal, apostando na transparência como instrumento para melhorar a mobilidade urbana na cidade maravilhosa.
Autor: Stephy Schmitz